Uma homenagem do Sou BH a três grandes ícones do povo mineiro e a todas as mulheres
“De manhã cedo essa senhora se
conforma
Bota a mesa, tira o pó
Lava a roupa, seca os olhos
Ah, como essa santa não se esquece de pedir
Pelas mulheres, pelos filhos, pelo pão
Depois sorri meio sem graça e abraça
Aquele homem, aquele tudo que a faz assim feliz
De tardezinha essa menina se namora
Se enfeita, se decora, sabe tudo, não faz mal
Ah, como essa coisa é tão bonita
Ser cantora, ser artista, isso tudo é muito bom
E chora tanto de prazer e de agonia
De algum dia, qualquer dia entender de ser feliz
De madrugada essa mulher faz tanto
estrago
Tira a roupa, faz a cama, vira a mesa, seca o bar
Ah, como essa louca se esquece
Como os homens enlouquecem
Nessa boca, nesse chão
Depois parece que acha graça e agradece
Ao destino, àquilo tudo que a faz tão infeliz
Essa menina, essa
mulher, essa senhora
Em quem esbarro a toda hora
Num espelho casual
É feita de sombra e tanta luz
De tanta lama e tanta cruz
Que acha tudo natural”.
Essa Mulher, canção de Joyce Moreno,
não poderia ser mais oportuna e autoexplicativa para elucidar uma data tão
importante. Não estamos falando de algo comercial e meramente simbólico, mas sim
de conquistas que foram galgadas ao longo de anos de luta e resistência. Nem
precisaríamos citar eventos como a “Queima de sutiãs” ou o sufrágio feminino – luta pelo
direito ao voto –, para que todos soubessem como foi e ainda é difícil ser
mulher em uma cultural global de machismo. Mas não iremos nos alongar com explicações
e reflexões, nosso objetivo aqui é simples: homenagear a todas as mulheres.
Para tanto, elencamos perfis que contribuíram para dar voz e força ao que a mulher representa hoje na sociedade.
Dona Beja:
Forte símbolo da cultura mineira, Ana Jacinta de São José, mais
conhecida como Dona Beja, foi uma personalidade influente no século XIX na
região de Araxá. Ainda aos 15 anos, em 1815, foi raptada pelo ouvidor do Rei,
Joaquim Inácio Silveira da Motta com quem foi forçada a viver
como amante. Após dois anos, Joaquim retorna para o Rio de Janeiro a pedido de
Dom João VI e Ana Jacinta decide regressar a sua cidade natal, Araxá. Ao chegar,
ela encontra um ambiente hostil. A conservadora sociedade local não a via como
vítima, mas como uma mulher sedutora de comportamento duvidoso e as mulheres a consideravam um grande risco para os valores éticos da época. Sendo assim, tornou-se uma
pessoa indesejada e marginalizada pela sociedade. Ao longo dos anos que se
seguiram, Dona Beja teve forte repercussão, tendo se tornado uma prostituta
famosa e concorrida pela alta sociedade. Ainda existe a lenda de que sua
beleza era tão extraordinária que modificou o mapa do Brasil. Em 1816, uma área
de Goiás foi integrada à de Minas Gerais sob a influência de Beja. Hoje a região
é conhecida como Triângulo Mineiro.
Chica da Silva:
Francisca da Silva, a Chica, foi uma escrava mineira alforriada que
ficou conhecida pelo poder que exerceu no arraial do Tijuco, hoje a cidade de
Diamantina. Nascida na época em que o Brasil tornou-se grande produtor de diamantes,
manteve durante mais de 15 anos união com o contratador de diamantes João
Fernandes de Oliveira. O fato de ter se tornado uma escrava alforriada e atingido
uma posição de destaque na sociedade local durante o apogeu da exploração de
diamantes, deu origem a diversos mitos sobre Chica, que convivia com a elite
branca local. Ela morava em uma exuberante casa, construída nas encostas da
serra de São Francisco, onde promovia bailes e representações. Era dona de
vários escravos que cuidavam das tarefas domésticas. Consta ainda que muitas
pessoas se curvavam à sua passagem e beijavam suas mãos. Falecida em 1796, em
seu testamento, doou parte de seus bens às irmandades religiosas de brancos, mestiços e negros.
Hilda Furacão:
Hilda Maia Valentim, mais conhecida como Hilda Furacão, nasceu na década
de 1930 em Recife. Mas, ainda criança, ela e sua família se mudaram para Belo
Horizonte. Na juventude, tornou-se uma das prostitutas mais icônicas da capital
mineira, quando ganhou o nome “Hilda Furacão”, pela sua reputação de
mulher de pouca paciência. Figura constante da boêmia de Belo Horizonte, conheceu
seu marido, o jogador Paulo Valentim, no final da década de 1950, quando se
transformou na senhora Hilda Maia Valentim. Com o marido, morou em Buenos
Aires, São Paulo e Cidade do México. Entretanto, fixou residência na capital argentina, onde ficou viúva em 1984 e, após a morte de seu único filho, a mulher
que foi a primeira-dama da zona mineira e da torcida do
Boca Juniors, foi morar em um asilo da cidade. Morreu em 2014 de morte natural, as
vésperas de completar 84 anos.