Cultura

106 anos na mesma esquina: qual a história do bar mais antigo de BH

Fundado em 1919, o Bar do Orlando atravessa gerações e se consolida como símbolo da história, da boemia e da cultura belo-horizontina


Créditos da imagem: Crédito: Divulgação/ Bar do Orlando
Imagem mostra bar em uma esquina com carros estacionados perto, além de um homem em pé. O antigo Bar dos Pescadores, na esquina da Rua Alvinópolis com a Rua Conselheiro Rocha, em Santa Tereza, nos primeiros anos de funcionamento.

Yasmin Oliveira

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12/11/25 às 18:10 - Atualizado em 13/11/25 às 12:27
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Na esquina da Rua Alvinópolis com a Rua Conselheiro Rocha, no bairro Santa Tereza, nasceu um dos bares mais emblemáticos de Belo Horizonte. Em 1919, o comerciante José Inácio inaugurou o Bar dos Pescadores em um ponto estratégico, frequentado por moradores que seguiam em direção à Ponte do Cardoso, caminho que ligava o bairro Santa Efigênia ao Rio Arrudas, ainda utilizado para pesca.



Desde o início, José Inácio atraiu clientes ao vender artigos de pesca e oferecer um espaço onde as pessoas podiam fritar o próprio peixe. Além disso, o comerciante criou um ambiente de convivência, onde os frequentadores compartilhavam histórias e refeições simples. Dessa forma, o local rapidamente se transformou em um ponto de encontro importante para a comunidade.

Com o passar dos anos, a família de José Inácio assumiu a continuidade do negócio. Primeiro, seu filho deu sequência ao trabalho do pai. Em seguida, o tio-avô de Orlando Júnior, Pedro Boaventura Siqueira, comprou o estabelecimento em 1970 e manteve o nome original. Uma década depois, em 1980, Orlando Silva de Siqueira, sobrinho de Pedro, assumiu a administração e rebatizou o local como Bar do Orlando, consolidando o nome que permanece até hoje.

Transformação e resistência do bar ao longo do tempo

Com o avanço da urbanização e a canalização do Rio Arrudas, a pesca perdeu espaço na rotina do bairro. Mesmo assim, o bar sobreviveu e se adaptou às transformações da cidade. Ao preservar o ambiente acolhedor e o atendimento próximo, a família Siqueira manteve o local como referência de tradição e convivência em Santa Tereza.

Paralelamente às mudanças no entorno, o Bar do Orlando fortaleceu sua identidade e conquistou reconhecimento como Patrimônio Histórico e Cultural de Belo Horizonte. A equipe sempre atendeu um público diverso, o que transformou o bar em símbolo de integração social. Desse modo, o espaço continuou reunindo pessoas de diferentes origens, profissões e idades em torno da mesma mesa.

Sabores que atravessam gerações

A cozinha do bar acompanhou essa trajetória e manteve viva a essência da casa. As prateleiras exibem produtos variados, como cachaças, temperos e artigos domésticos, enquanto a tradicional estufa abriga o prato mais famoso: o Torresmão. Esse torresmo de barriga, crocante e suculento, acompanha mandioca frita e linguiça, formando o conhecido Trio da Roça.



A equipe do bar preserva a receita original transmitida de geração em geração. Assim, o sabor permanece fiel às origens e reforça a autenticidade da culinária mineira. Ao valorizar o tempero familiar e o preparo artesanal, o Bar do Orlando reafirma seu compromisso com a tradição e conquista novas gerações de clientes.

Com o tempo, o bar incorporou melhorias sem abandonar suas raízes. Durante a pandemia, Orlando e sua esposa Maria Luisa implantaram um sistema de gestão que modernizou o controle de estoque e agilizou o atendimento. Essa mudança profissionalizou o funcionamento do bar e preparou o negócio para o futuro.

Simultaneamente, a família iniciou a transição de comando. Após mais de quatro décadas à frente do balcão, Orlando transferiu gradualmente a gestão para o filho Orlando Júnior, que assumiu a responsabilidade de preservar o legado familiar. A nova geração passou a combinar tecnologia e tradição, garantindo continuidade à história centenária do estabelecimento.

Eventos no bar e vida cultural

O Bar do Orlando sempre manteve uma forte relação com a cultura de Santa Tereza. Antes da pandemia, o local abrigava o Bloco Pescadores, formado por clientes e amigos que animavam o carnaval do bairro. Embora o bloco tenha parado por motivos logísticos, a comunidade ainda associa o bar às antigas festas de rua e ao espírito alegre do bairro.

Além do carnaval, o bar promove eventos fixos, como a Festa Junina e a comemoração de aniversário em novembro. Essas celebrações atraem moradores, turistas e antigos frequentadores, fortalecendo o papel do estabelecimento como ponto de encontro cultural e afetivo da região.

Santa Tereza e o espírito boêmio

O Bar do Orlando também se integra ao cenário artístico de Santa Tereza, bairro conhecido por abrigar nomes históricos da música mineira, como os integrantes do Clube da Esquina. Assim, o bar se tornou um refúgio para músicos, artistas e apreciadores da cultura popular. Nos fins de semana, o espaço recebe rodas de samba e MPB, que animam o público e reforçam a atmosfera boêmia da vizinhança.

Por meio da música, da gastronomia e da convivência, o bar continua atraindo visitantes que buscam experiências autênticas. Essa interação constante entre o tradicional e o contemporâneo mantém o lugar vivo e relevante dentro da cena cultural belo-horizontina.