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Toninho, o audaz, lança novo álbum em comemoração aos 50 anos de carreira

O artista recebeu o Sou BH em casa e falou sobre momentos inesquecíveis de sua carreira



Créditos da imagem: Paulo Ti
Main capa foto paulo ti 1
Júnior Castro
05/07/19 às 20:00
Atualizado em 10/07/19 às 21:08

 “Se já nem sei o meu nome. Se eu já não sei parar. Viajar é mais, eu vejo mais...” Manuel, o Audaz, um dos maiores sucessos de Toninho Horta, dá tom ao papo que tivemos com o artista na semana de lançamento do novo álbum – “Belo Horizonte” – em comemoração aos seus 50 anos de carreira.

Sensibilidade e delicadeza. Aos três anos de idade, Toninho tecia lágrimas ao ser pego embaixo de uma mesa ouvindo Clair de Lune, um dos maiores ícones da música erudita de todos os tempos. “Minha mãe me contou essa história, mas não tinha como fugir. A música é hereditária na minha família. Ela tocava bandolim, meu pai violão, meu avô era maestro de banda. Sempre vivi com todos eles tocando e me emocionava sempre que ouvia músicas clássicas”, recorda o artista.

Aos 13 anos, Horta tinha composta sua primeira criação musical. Barquinho Vem foi feita em 1961 e aconteceu de forma natural. Já aos 14, possuía em mãos a primeira gravação de uma música de autoria própria, Flor que Cheira a Saudade. “Essa canção foi gravada pelo conjunto do Aécio Flávio. Quando peguei o disco fiquei maravilhado, foi uma emoção muito grande ter uma música registrada”, lembra Toninho.

Espontaneamente o ofício tomou conta da trajetória de Horta. Em 1967, 46 músicas foram inscritas no Segundo Festival Internacional da Canção, sendo duas de Toninho: Nem É Carnaval, parceria com Márcio Borges e Maria Madrugada, com letra de Júnia Horta. “Nessa época, Milton Nascimento, que também estava no início de carreira, classificou três canções e, além de nós, só Vinícius de Morais conseguiu duas aprovações. Depois disso, todo mundo queria saber quem eram esses tais Toninho e Bituca (Milton Nascimento)”, explica sobre o festival.

Descobertos nacional e internacionalmente, pouco tempo depois surge o Clube da Esquina. “O grupo foi um divisor de águas na música brasileira. Uníamos Bossa Nova, jazz, rock, folclore mineiro, recursos de música erudita e hispânica”, lembra. Na sequência, nasce mais uma conquista, o disco “Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta”. “Todo mundo queria fazer o seu disco, só que a gravadora já havia gastado muito dinheiro na produção do álbum anterior. Então, eles resolveram nos colocar em um disco só, e fizeram a foto dentro de um banheiro minúsculo, onde surgiu a imagem superfamosa da contracapa”, revive Toninho.

Música e harmonia

Com imensa bagagem musical, Toninho também relembrou histórias de alguns de seus maiores sucessos. “Manuel (o Audaz), por exemplo, é uma canção muito emblemática. Ela foi feita em conjunto com Fernando Brant para homenagear um jipe. Com ele também fiz Diana, que era a cachorrinha de seu irmão. E O Céu de Brasília, que compus após uma viagem à capital”, conta. A última, entretanto, vem com uma recordação hilária. “Eu disse para Fernando que a única coisa que eu queria era que o nome fosse esse (O Céu de Brasília). Logo, ele me respondeu: ‘poxa, mas eu nunca fui pra lá’. Aí falei para ele se virar. Se ele quisesse escrever a letra, teria de ser com esse nome”, diverte-se.

Já nos anos 80, Toninho deslancha na carreira internacional. “Nesse período comecei a ir para os Estados Unidos. No final da década recebi um convite para assinar com a PolyGram e fazer parte do selo de jazz da gravadora”, diz Toninho. Mais de 20 anos tocando ao redor do mundo, em 2000 Horta é convidado para se apresentar para a família imperial do Japão. “Já fui umas 30 vezes para o Japão, eles são loucos pela música brasileira. Os japoneses têm discos meus que não vejo nem por aqui”, orgulha-se.

Agora, celebrando 50 anos de carreira, o artista lança o álbum “Belo Horizonte”. O simbolismo da data e o título do disco não foram coincidências. “Eu amo a cidade, daqui vieram todas as minhas referências. Mesmo quando eu viajava o mundo todo, sempre vinha pra cá para descansar, ficar à vontade e comer fruta no pé. Esse álbum não poderia ter outro nome”, relembra o músico com afeição.

Além de representativo, “Belo Horizonte” nasceu de uma ideia do filho de Horta. “Um dia, meu filho chegou e me disse: ‘Pai, já que Milton Nascimento tem um disco chamado “Minas” e outro “Gerais”, por que você não faz o “Belo” e o “Horizonte”?’, conta. Do insight, veio o álbum duplo, que traz no primeiro volume músicas famosas interpretadas em parceria com grandes nomes como João Bosco e Joyce Moreno. Já no segundo, canções inéditas e totalmente instrumentais.

Orgulhoso pelo novo trabalho, Toninho encerra nosso papo contando sobre novos projetos e futuro da carreira. “Tenho muita coisa pra fazer. Um dos meus próximos desafios é montar uma nova banda apenas com músicos da nova geração. Também pretendo lançar meu livro e mostrar ao público toda a história do jazz no Brasil”, finaliza.