Menos de 15% dos belo-horizontinos confiam na segurança da cidade
Ainda assim, o primeiro semestre deste ano teve queda no registro de crimes violentos em comparação ao mesmo período de 2016
Foto: Adão Souza/Divulgação PBH
Por Camila Saraiva
Você se sente seguro em BH? Fica tranquilo ao andar pelas ruas da cidade? Pois apenas um a cada sete belo-horizontinos confia na segurança pública da capital mineira. Menos de 10% dos moradores acreditam muito nas forças de segurança preventiva para garantir seu bem-estar - 9,5% na Polícia Militar e 5,2% na Guarda Municipal.
Os números que indicam uma Belo Horizonte amedrontada foram divulgados em pesquisa exclusiva feita pela empresa Opinion Box. A sensação apontada pelo levantamento contrasta com a principal bandeira da gestão de Alexandre Kalil (PHS) na área de segurança: a queda no número de crimes violentos em BH após uma atuação mais ostensiva da Guarda Municipal, antes focada apenas na segurança patrimonial.
No último mês divulgado pela Sesp (Secretaria de Estado de Segurança Pública), junho, a capital mineira apresentou uma queda de 21% em comparação com o mesmo período de 2016: de 3.713 para 2.914. Em ocorrências menos graves, como furto e lesão corporal, Belo Horizonte também registrou diminuição. Mas por que, então, o belo-horizontino continua com medo?
“A nova postura dos guardas municipais, em conjunto com o trabalho ostensivo da Polícia Militar, explica a queda no índice de crimes mais violentos nesse primeiro semestre do ano em Belo Horizonte. Mas, se comparada aos últimos cinco anos, a queda não representa muita coisa, é pequena e recente. Esses crimes estão em patamares elevados há muitos anos", explica ao Sou BH o coordenador do Centro de Estudos em Segurança Pública da PUC Minas, Luis Flávio Sapori.
"Então é totalmente compreensível essa sensação de insegurança”, conclui o especialista. De fato, quando considerados apenas os números absolutos, este ano mantém taxas mais altas do que anos anteriores a 2014. Comparados os meses de junho deste ano com o de 2012, houve um aumento de 35%. Em janeiro, a quantidade de crimes violentos foi mais do que o dobro de cinco anos atrás.
Para a Guarda Municipal, a sensação de insegurança é abstrata e construída sem levar em consideração "parâmetros objetivos para avaliar esta mesma segurança". "Não se
fundamenta em dados estatísticos para tal, o que faz com que a percepção dos moradores não
seja alterada positivamente, mesmo quando há queda nos números da violência", explica em nota a assessoria da Secretaria Municipal de Segurança Urbana.
Já a Polícia Militar justifica o baixo índice ao apontar sentimento generalizado de insegurança no mundo todo, principalmente quando acontece algum ato de violência de grandes proporções em qualquer país. "A conexão de informações, a mídia atuando de forma rápida, trazendo notícias do mundo todo a qualquer momento, contribui para a sensação de insegurança e medo mesmo estando longe do foco", afirma o major Flávio Santiago, chefe de comunicação da Polícia Militar.
Nova gestão
Alexandre Kalil iniciou o mandato com mudanças na postura da Guarda Municipal em BH. Nesse modelo ativo e preventivo, três operações já foram instauradas na tentativa de barrar a criminalidade na cidade: Operação Viagem Segura, realizada dentro de algumas linhas de ônibus; Operação Sentinela, que se resume ao patrulhamento em praças; e Operação Flanelinha, que trabalha na tentativa de coibir a ação de clandestinos que se apresentam como cuidadores de carros.
Apesar da prefeitura creditar quedas nos índices de criminalidade à nova função, especialistas contemporizam e alertam para a necessidade de mais tempo e dados para tirar alguma conclusão. "A presença ativa dos guardas ainda é recente e insuficiente para mudar a sensação de insegurança. E ainda não temos um dado, uma análise que explica a correlação direta entre a queda nos crimes neste ano com a ação da Guarda Municipal. É tudo muito novo", afirma Camila Cardeal, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Segurança Pública da Fundação João Pinheiro.
Questionada, a Polícia Militar vê com bons olhos a postura mais preventiva dos guardas, mas faz questão em receber os louros pela diminuição na quantidade de crimes na capital mineira. "A grande protagonista nesses primeiros seis meses é a força de segurança do Estado. A Guarda Municipal é um bom coadjuvante neste processo", afirma o major.
Pesquisa
A pesquisa que aponta a sensação de insegurança em BH foi realizada de 7 a 11 de agosto de 2017 com 400 moradores de todas as regiões de Belo Horizonte, entre homens e mulheres, de todas as classes. A Opinion Box é um empresa que desenvolve soluções digitais para pesquisas de mercado e coleta de dados primários. O trabalho é todo baseado em informações de credibilidade e segurança.
Reprodução/Opinion Box