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Cerca de 92% dos belo-horizontinos não acreditam que a capital está preparada para as chuvas

No último período chuvoso, capital mineira registrou 267 alagamentos e 158 deslizamentos



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Redação Sou BH
18/11/17 às 00:16
Atualizado em 01/02/19 às 19:12


Nilton Dias Paiva/Defesa Civil

Por Júlia Alves

O período chuvoso mal começou, em outubro, e os belo-horizontinos já sentiram os transtornos trazidos pela chuva: alagamentos, interrupções de luz e quedas de árvores - no caso mais grave, resultando em óbito. As cenas recorrentes todo ano são digeridas com insegurança: 92% dos moradores não acreditam que BH esteja preparada para a temporada de chuvas. E, ainda, oito a cada dez residentes não se sentem seguros em sair de casa quando chove.

Os números foram revelados em pesquisa exclusiva feita pela empresa Opinion Box, entre os dias 13 e 17 de outubro. O temor dos belo-horizontinos pode ser ilustrado em dados da própria gestão municipal: no último período chuvoso, entre outubro de 2016 e março deste ano, foram registrados 267 alagamentos - média superior a um por dia - e 158 quedas de encostas. O mais alarmante: existem pontos de alto risco de inundações em todas as nove regionais de BH (veja lista abaixo).

Os transtornos enfrentados pelos moradores de BH são tão corriqueiros que 80% dos entrevistados afirmaram que já sofreram alguma perda em decorrência das chuvas: entre carro, residência, móveis e eletrodomésticos ou até mesmo animais de estimação, familiar ou amigo.



De quem é a culpa?

O belo-horizontino não tem dúvida quanto a essa questão: 89% apontaram os próprios moradores ou a Prefeitura de Belo Horizonte como culpados. Mais especificamente, 47% acreditam que o principal culpado são os moradores; 42% culpam a gestão municipal; 9%, a natureza, enquanto 1% cita outra opção.

De fato, eles têm razão, segundo especialistas sobre o tema. Há problemas de gestão - obras que já deveriam ter sido realizadas e principalmente uma reformulação na política pública sobre o assunto; hábito da população - resíduos descartados ilegalmente obstruem canais de escoamento; e topográfico - com seu relevo característico, BH é propícia para formação de cheias. 

“Adequar a legislação pode ajudar na contenção dos problemas. É possível viabilizar projetos na Câmara de BH que utilizem do orçamento público para facilitar a coleta de água da chuva, a implantação de canalizações, telhados verdes e mais vegetação entre os prédios da capital”, explica ao SouBH o engenheiro hidráulico e professor da UFMG Márcio Baptista.

"É necessária uma solução a longo prazo e mais permanente trabalhando em conjunto, tais quais cobertura verde (plantas no telhado de construção para absorver a água), canalização, reservatórios e técnicas de infiltração”, concorda o também engenheiro hidráulico e professor da UFMG Nilo Nascimento.



Sobre a falta de educação dos belo-horizontinos na hora de descartar resíduos, os estudiosos são taxativos sobre a necessidade de uma mudança cultural. Os bueiros entupidos, as galerias de córregos obstruídas por toneladas de lixo e o descarte ilegal de entulho na margem de córregos estão entre os principais culpados pelas inundações e a pouca vazão de certos corredores da capital.

“Ações por parte da PBH precisam ser mais intensas, com fiscalização de descarte ilegal de lixo, mais locais próprios para esses rejeitos e obras pontuais. Essa mudança vai muito além da educação ambiental”, afirma Nascimento.

Abordadas pela reportagem, a SLU e a Sudecap afirmam que fazem mutirões para a limpeza de galerias, bocas de lobo e córregos justamente com o objetivo de evitar enchentes e melhorar o escoamento das chuvas. Segundo a Sudecap, os córregos são limpos periodicamente e têm as margens capinadas pelo menos duas vezes por ano.

Obras

Segundo a pesquisa da Opinion Box, 60% dos belo-horizontinos não perceberam trabalho algum da PBH no último ano para amenizar os impactos causados pela chuva. Outros 20% afirmaram que perceberam o esforço e os 20% restantes não souberam opinar. A administração municipal, no entanto, garante que a percepção dos entrevistados não condiz com a realidade.

Em fevereiro deste ano, o prefeito Alexandre Kalil (PHS) apresentou o Plano de Obras 2017-2020 com um total de R$ 2 bilhões de investimentos. Em nota ao SouBH, a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) afirmou que, desse montante, “cerca R$ 800 milhões serão aplicados em intervenções de grande porte para prevenção e combate a inundações”.


Taxista morreu no mês passado após carro ser atingido por árvore (Divulgação/Corpo de Bombeiros)

Após seis meses da liberação do Plano de Obras, três novas intervenções tiveram licitações abertas. Com a publicação no Diário Oficial do Município (DOM) em agosto deste ano, as obras seguem ainda sem previsão de início. Segundo a Sudecap, as intervenções serão focadas na otimização do sistema de macrodrenagem das bacias dos Ribeirões da Pampulha e do Onça, a implantação de bacia de detenção do bairro das Indústrias e o tratamento de fundo de vale dos córregos Jatobá e Olaria, na região do Barreiro. Ao todo, esses projetos receberão o investimento de cerca de R$ 291 milhões.

Em andamento, a Sudecap também possui pelo menos dois grandes projetos, a exemplo das obras nas galerias dos córregos do Acaba Mundo e outros afluentes do Ribeirão Arrudas na região Centro-Sul, que deveriam ter sido concluídas no ano passado, além da retomada das intervenções na bacia de detenção do córrego Túnel/Camarões, no Barreiro, que devem ser concluídas em outubro de 2018.

Com pouca infiltração e alta urbanização, o sistema de drenagem existente nem sempre consegue suprir o grande volume pluviométrico, segundo Márcio Baptista. “Com um sistema de drenagem antigo e que já vem sofrendo acentuado desgaste há vários anos, os focos de alagamento tendem a aumentar, principalmente onde a vazão da água da chuva é prejudicada por lixo e entulhos”, afirma.

Todas as Regionais de BH possuem pontos com risco de alagamentos. Entretanto, a Defesa Civil alerta que existem algumas zonas principais e mais preocupantes:

·  Centro-Sul: Rua Joaquim Murtinho e Av. Prudente de Morais

·  Barreiro: Av. Tereza Cristina

·  Oeste: Av. Tereza Cristina e Av. Francisco Sá

·  Nordeste: Av. Bernardo Vasconcelos

·  Pampulha: Av. Sebastião de Brito

·  Venda Nova: Av. Vilarinho

Alguns desses pontos mais críticos devem receber a atenção da PBH no próximo ano. Em nota, a Sudecap afirma que “até o final do ano, também está prevista a publicação do edital de licitação para a contratação de diagnóstico das bacias do Vilarinho e Nado e a elaboração dos respectivos projetos executivos de micro e macrodrenagem na região”.

Com uma série de obras na agenda, Márcio Baptista afirma que é necessário haver uma prioridade nas áreas emergenciais. “Decisões técnicas e inteligentes devem ser feitas para solucionar o problema sem gastar novamente com a mesma obra no futuro. É preciso investir dinheiro onde será eficaz e surtirá efeito a longo prazo”, completa o engenheiro.