Cultura

7 curiosidades sobre o Clube da Esquina, que nasceu em BH

Após a morte de Lô Borges, um dos fundadores do Clube, relembramos histórias marcantes do movimento que revolucionou a música brasileira


Créditos da imagem: Cafi/Reprodução
Clube da Esquina, álbum de 1972, foi eleito um dos melhores de todos os tempos pela Paste Magazine Clube da Esquina, álbum de 1972, foi eleito um dos melhores de todos os tempos pela Paste Magazine

Mariana Cardoso Carvalho

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03/11/25 às 13:25 - Atualizado em 03/11/25 às 14:10
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O cantor e compositor Lô Borges, um dos fundadores do Clube da Esquina, morreu aos 73 anos, nesse domingo (2), em Belo Horizonte. O artista estava internado há 18 dias no Hospital da Unimed, onde tratava um quadro de intoxicação medicamentosa desde 17 de outubro. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos, como confirmou o sobrinho Rodrigo Borges. Símbolo de uma geração que redefiniu os rumos da música brasileira ao lado de Milton Nascimento, Beto Guedes, Fernando Brant e tantos outros, Lô deixa uma obra marcada pela poesia, pelas harmonias inovadoras e pelo espírito mineiro que inspirou o Clube da Esquina.


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Esquina virou símbolo, mas núcleo ficava em outro lugar

Embora a esquina entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro Santa Tereza, seja amplamente identificada como o berço do movimento, Lô Borges esclareceu, em entrevista à revista Piauí, que o verdadeiro conjunto de encontros ocorria em outros espaços, como o bar Saloon, no Centro de BH — em frente ao antigo Cine Palladium, atual Sesc Palladium —, ou na casa da família Borges. Para ele, foi uma “licença poética à esquina”.

Quem morava na casa da esquina

A casa da famosa esquina de Santa Tereza não era dos Borges: pertencia originalmente a Maria de Freitas. Em 1966, Roberto Casarões, seu sobrinho, se mudou de Conselheiro Lafaiete para Belo Horizonte para cursar medicina na UFMG, e passou a morar no imóvel.

À noite, ele costumava sair com colegas para fazer serenatas para os pensionatos próximos, enquanto observava os jovens músicos do bairro. Mais tarde, a advogada Daniela Arruda, que viveu na casa entre 2011 e 2023 com o médico Casarões, contou que a esquina continuava atraindo visitantes curiosos. Eram inúmeros os turistas e fãs que tocavam campainha perguntando se podiam entrar.

Encontro com Milton Nascimento

A amizade com Milton Nascimento surgiu quando os irmãos Borges se mudaram temporariamente para o Edifício Levy, no Centro de Belo Horizonte, devido a uma reforma na casa da família. Mesmo depois do retorno a Santa Tereza, Milton continuou visitando os Borges, fortalecendo uma parceria que se tornaria fundamental para a música brasileira.

Dona Maricota, a matriarca que aplaudia a música

Maria Fragoso Borges, mãe de Lô, permitia que amigos e músicos frequentassem a casa, testassem harmonias e experimentassem novos sons. O percussionista Naná Vasconcelos, por exemplo, chegou a pegar emprestadas panelas na cozinha para criar ritmos. A casa dos Borges era ponto de convivência musical e experimentação criativa.

Jovem compositor

Lô Borges compôs clássicos da MPB ainda adolescente. Entre os maiores sucessos estão “Tudo Que Você Podia Ser”, “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”, “Trem de Doido”, “Paisagem da Janela”, “Nuvem Cigana” e “O Trem Azul”. Muitas dessas canções integraram o álbum Clube da Esquina, de 1972, considerado um dos discos mais importantes da música brasileira.

O Trem Azul

Uma das canções mais conhecidas de Lô Borges combina a paixão do artista pelo futebol e a inspiração de uma viagem europeia. A melodia foi criada por Lô em homenagem ao ex-goleiro Raul Plassmann, ídolo do Cruzeiro, seu clube do coração, ao passo que a letra surgiu de uma viagem de trem feita por Ronaldo Bastos, parceiro de composição, entre Amsterdã e Paris. Apesar de a torcida associar “O Trem Azul” ao time celeste, ela não faz qualquer referência direta. A canção se tornou um clássico da MPB, gravada por artistas como Tom Jobim e Elis Regina.

Reconhecimento internacional

O grupo se tornou referência nacional e internacional, influenciando músicos de diversos estilos ao integrar elementos da bossa nova, jazz, rock e música regional mineira para criar uma sonoridade inovadora. O Clube da Esquina, de 1972, e o Clube da Esquina 2, de 1978, continuam a ser celebrados como marcos da MPB. O primeiro álbum, por exemplo, foi eleito o nono melhor de todos os tempos — e de todo o mundo — no ranking elaborado em 2024 pela revista norte-americana Paste Magazine.