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Grupo Corpo apresenta dois espetáculos no Palácio

Trilha original é ponto de partida para criação de coreografias da companhia mineira



Créditos da imagem: Divulgação
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Grupo Corpo
Redação Sou BH
22/12/14 às 17:10
Atualizado em 01/02/19 às 19:57

Por Camila de Ávila, jornalista do Sou BH

Entre 7 e 10 de agosto, o Grupo Corpo apresentará no Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 – Centro) “Onqotô”, de 2005, e “TRIZ”, de 2013. Além de ser uma das principais companhias de dança de Minas e do mundo, o grupo tem como característica apresentar ao público uma trilha sonora original primorosa fazendo de suas apresentações uma arte a ser contemplada com os olhos e ouvidos bem abertos e atentos.

A encomenda da música é feita pelo coreógrafo da companhia, Rodrigo Pederneiras. A escolha do compositor é feita de forma subjetiva, segundo a ex-bailarina Cristina Castilho. “Na verdade se escolhe aquele ‘que bate’ e que tem uma linguagem que pode ser usada na dança. Pedimos apenas um tempo determinado, de 40 a 45 minutos. Fora isso, há liberdade total, sem tema e sem direção”, conta. 

Por ser também intuitiva, a paixão é fator na escolha da canção. E ela é responsável pela trilha de “Lecuona” com músicas de Ernesto Lecuona (1895 – 1963). Depois de ser presenteado pelo cenógrafo Fernando Veloso com um disco do cubano, Rodrigo se apaixonou pela sonoridade já conhecida e decidiu, depois de mais de uma década trabalhando somente com trilha original, utilizar a música passional e ardente de Lecuona. 

Compositores como Arnaldo Antunes, João Bosco, Uakiti, Moreno Veloso, Domenico Lancelotti e Kassim também trabalharam com o Corpo. Milton Nascimento e Fernando Brant foram os responsáveis pela primeira criação da companhia, Maria Maria. 

A coreografia começa a ser montada depois que Rodrigo escuta a trilha exaustivamente por várias vezes. “Depois que a música chega aos ouvidos é que se começa a pensar o tema. Rodrigo escuta mil vezes e deixa a música conduzir. A música cria o movimento”, constata Cristina. 

Parceria com Wisnik

O convite para criação de “Onqotô” aconteceu em 2003, quando Rodrigo pensava em criar uma dança para comemorar os 30 anos da trupe. “Onqotô” foi composta pelo paulista José Miguel Wisnik e o baiano Caetano Veloso em 2005. A ideia da música surgiu de uma conversa na qual Veloso e Wisnik discutiam a origem do mundo. A trilha de Onqotô possui músicas instrumentais e canções com letras inspiradas em poemas de Camões e Gregório de Matos, o Boca do Inferno, e frase de Nelson Rodrigues. As coreografias dessas músicas apresentam o rigor e a delicadeza da poesia por meio de movimentos intensos, pesados e viscerais. 

“Onqotô” foi a terceira coreografia a partir do som de Wisnik. Segundo Cristina, Wisnik se tornou amigo e sabe fazer música para dança. “Ele tem uma noção legal de cena do espetáculo. Para um espetáculo cênico são necessárias dinâmicas diferentes, e ele sabe fazer isso.”

Encontro com Lenine

Já “TRIZ” é dançada em cima das notas de Lenine. Este é o segundo trabalho do compositor pernambucano para o bailado do Corpo e foi utilizado somente instrumentos de corda na música, reforçando a ideia de estar por um triz, por um fio. 

O conceito ficou na cabeça do coreógrafo porque Rodrigo estava se recuperando de uma cirurgia e, sentiu os limites do corpo na criação do trabalho. O fato de Lenine ter feito a trilha sonora utilizando instrumentos de corda evidenciou esta teoria de que a vida está por um fio.

Cristiane Castilho diz que os compositores ficam impressionados ao ver sua criação dançada. “Quando os compositores assistem pela primeira vez o balé se impressionam. Eles afirmam que conseguem escutar melhor a própria música. Ficam impactados. Uma vez Lenine disse que ao ver o Corpo dançando, conseguiu ver a sua música,” explica.

Algumas canções dos balés do Grupo Corpo podem ser ouvidas com outras vozes e em outras circunstâncias. “Mortal Loucura” de “Onqotô” foi gravada por Mônica Salmaso e, “Madre Deus” foi registrada por Gal Costa e Jussara Silveira. A canção “Assum Branco”, parceria de Wisnik com Tom Zé para “Parabelo”, foi gravada por Zizi Possi, Ná Ozetti, Mônica Salmaso, Mariana de Moraes e Gal Costa. As trilhas dançadas pelo Corpo são vendidas somente nas apresentações.