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Palavra de Mulher canta obra feminina de Chico Buarque

Lucinha Lins, Tania Alves e Virgínia Rosa interpretam o eu-lírico feminino de Chico Buarque



Créditos da imagem: Divulgação
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Lucinha Lins faz parte do elenco de Palavra de Mulher
Redação Sou BH
20/01/15 às 20:18
Atualizado em 01/02/19 às 20:00

Por Camila de Ávila jornalista Sou BH

O cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda comemorou, em 19 de junho de 2014, 70 anos de vida. Por todo o Brasil pipocam homenagens a este artista que é considerado um dos mais importantes nomes do cancioneiro popular nacional. Lucinha Lins, Tania Alves e Virgínia Rosa são as intérpretes de uma delicada contemplação da arte de Chico Buarque, elas encenam o musical “Palavra de Mulher”, no qual cantam músicas do compositor que falam da mulher, da alma, da força e da dor feminina.

A atriz e cantora Tania Alves, que foi contratada pela gravadora Polygram graças a Chico Buarque, sabe da importância de se trabalhar a obra deste artista. “No panorama musical brasileiro, ele transita numa via só dele, é hors concours! Capta a alma do povo brasileiro e a expressa com exímia qualidade musical e poética, conseguindo ser ao mesmo tempo elaborado e acessível aos ouvidos das multidões”, explica. Tania afirma que é também fã da obra de Chico. “Como todos os brasileiros, curtia ouvir e cantar os sucessos de Chico Buarque. O conheci pessoalmente durante os ensaios de “A Ópera do Malandro”, que protagonizei em São Paulo. Ele levou a diretoria da Polygram para assistir, eles gostaram e me contrataram. Comecei minha carreira fonográfica graças ao Chico! Sou muito grata por isso!”, conta.

A peça musical é apresentada acompanhada de instrumentos acústicos, piano, contrabaixo e bateria/percussão, deixando os arranjos mais leves, mas não menos rebuscados. A música de Chico Buarque tem a fama de ser difícil de cantar e tocar, ou como diz Tania, trabalhosa. Sobre essa questão a cantora/atriz fala que “depende da ‘pegada’. Você pode ouvir alguém cantando Chico ali na esquina batucando numa caixinha de fósforos ou ouvir os arranjos elaboradíssimos do nosso maestro Ogair Junior. Nesse caso precisamos de muita concentração para manter o equilíbrio entre técnica e emoção, que é o que não falta na música do Chico. Prefiro usar o termo trabalhoso que o termo difícil. Para mim as músicas rítmicas são menos trabalhosas. Vão no fluxo do swing da raça”, analisa.

Como uma forma de segmentar a obra de Chico Buarque, o diretor da peça, Fernando Cardoso, achou melhor focar nas canções do universo feminino do artista. Para quem conhece a obra de Chico sabe que isso não é um corte que diminui muito o repertório do compositor, pois a mulheres cantadas por ele são todas, ou seja, femininas, fortes, sensíveis, amarguradas, felizes, plenas, desejadas e largadas. Para Tania fazer essas mulheres é uma brincadeira. “Gosto de brincar disso! Passear por todos esses sentimentos com o corpo, com a alma, com a voz”, explica. A atriz afirma a dificuldade de escolher este repertório. “O difícil foi selecionar canções dentro de uma obra tão vasta. Tudo é bom! Lamentamos ótimas canções terem ficado de fora. Se fôssemos cantar todas, o show duraria dias seguidos”, conta em meio a risos.

Nessa ideia de cantar várias mulheres de Chico Buarque, ficou na voz de Tania as interpretações de “Funeral do Lavrador” e “Morte e Vida Severina”. Ambas as canções compostas para a peça baseada no texto de João Cabral de Melo Neto, produzida pela companha de Teatro da PUC de São Paulo na década de 1960. O espetáculo teve uma ótima aceitação de público e crítica e viajou para França, para participar como convidado no festival de teatro da cidade de Nancy.  Ambas as canções são muito fortes e densas e retratam, com a ajuda do texto de Cabral de Melo, a dor do lavrador que perde a sua terra. “Interpreto a ária ‘Funeral de um Lavrador’ do poema Morte e Vida Severina, um réquiem cantado sobre a triste ironia de o lavrador ser enterrado numa cova na mesma terra por cuja distribuição reivindicava. É a mulher visceral, trágica, a mãe universal inconformada, clamando por uma vida mais justa para os seus”, constata Tania.

A peça recebeu quatro indicações ao Prêmio Bibi Ferreira 2013/2014 de melhor Musical Brasileiro, melhor Atriz, para Tania Alves, melhor Direção e melhor Direção Musical.  Todas as atrizes em cena possuem uma relação com Chico Buarque. Lucinha Lins já interpretou papéis em “A Ópera do Malandro”, “O Corsário Rei” e “Os Saltimbancos”. Tania fez “Calabar” e “A Ópera do Malandro” e a série global “Morte e Vida Severina”. Já Virgínia Rosa é veterana em interpretar canções de Chico nos palcos.

A música de Chico Buarque sempre representa a mulher em algum momento de sua vida. Tania afirma que muitas canções de Chico a representam. “Várias! Posso citar ‘Bastidores’ por já ter vivido situação parecida ou, ter que cantar e encantar, disfarçando o coração partido por uma desilusão amorosa. Também o ‘Funeral’ que ficou marcado na minha história por ser considerado um dos pontos altos da televisão brasileira”.

O musical "Palavra de Mulher" será apresentado no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1537 - Centro), nos dias 3 e 4 de outubro, sexta-feira e sábado, às 21h.