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Peça teatral homenageia atriz Cecília Bizzotto

Teatro documental fala sobre despedida, solidão e tristeza na Funarte



Créditos da imagem: Divulgação
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Atriz Beatriz França apresenta peça em homenagem a Cecília Bizzotto
Redação Sou BH
20/01/15 às 20:34
Atualizado em 01/02/19 às 19:58

Por Camila de Ávila, jornalista Sou BH

Em outubro de 2012, a atriz mineira Cecilia Bizzotto, de 32 anos, foi assassinada num assalto em sua casa no bairro Santa Lúcia, em Belo Horizonte. Além de um filho, a jovem atriz deixou também órfãos amigos, como a também atriz Beatriz França. Agora, quase dois anos após sua partida, será encenada a peça do gênero teatro documental com multilinguagens, “Talvez eu me despeça”, que fica em cartaz na Funarte de 22 a 31 de agosto.

Segundo Beatriz, a peça não é um protesto, e sim uma homenagem. “Confesso que nunca consegui ficar com raiva, por isso a peça não se trata de um protesto. O sentimento que tive diante da morte da Ciça (apelido de Cecília), foi e ainda é de impotência”, relata.

A peça tem texto de Beatriz França e do dramaturgo Daniel Toledo que utilizam a técnica do teatro documental, que consiste em colocar a experiência vivida pelo artista em cena. Beatriz se arrisca no tablado a partir do momento em que se coloca verdadeiramente presente na cena, no que se refere ao sentimento de perda, tristeza e solidão. “Queríamos homenagear a Cecília, sendo assim, quem está no palco sou eu, Bião, a forma como Ciça me chamava. Tento colocar a minha relação com ela no palco, de forma honesta e sincera”, explica.

O objetivo da peça é tirar as pessoas da zona de conforto. Por isso, Daniel Toledo colocou no texto a fragilidade dos encontros que a vida proporciona por meio dos estudos do pensador grego Nikos Kazantzakis (1883-1957), que fala sobre o nascer e morrer em cada instante. “Podemos ter uma curta ligação com alguém e construir algo interessante. O contrário também pode ocorrer. Os encontros são surpreendentes”, conta. O texto fala sobre o último encontro de Bião com Ciça, numa pizzaria depois de a vítima ter estado em cena. “Pode ser que neste encontro eu tenha me despedido. Pode ser que não. Mantenho esse diálogo com público todo o tempo, deixando claro que as coisas são efêmeras e frágeis”, afirma.

Há um momento em que a peça ganha um tom político. Nesta hora a atriz relembra toda a ação que tirou a vida de Ciça. “Faço uma reflexão do fato e de como foi esse assassinato para mim. Falo da violência que ela sofreu, da questão da insegurança em que vivemos. Deixo claro que a dor e o sofrimento não estão longe de nós, em Gaza. Convivemos com ela aqui todo tempo”, constata Beatriz.

Na Funarte será montada uma instalação na qual estão coisas de Cecília Bizzotto. Segundo Beatriz, isso foi feito com todo cuidado para não expor a imagem da atriz. Ciça aparece na peça uma única vez.

Beatriz espera que a peça seja para o expectador uma chance de se despedir de suas perdas. A peça é um carinho feito para Ciça. “Sou eu em cena me despedindo de Ciça e acredito que este espetáculo vai mexer com expectador, pois ele terá a chance de refletir sobre suas perdas. Meu maior desejo é que seja visto como um espetáculo de afeto. Foi feito para Ciça.”

Os assassinos de Cecília Bizzotto estão presos.