Música e moda desfilam juntas
Responsável por dar o ritmo e o ambiente ao desfile, a variedade das músicas vem ocupando as passarelas
Por Camila de Ávila, jornalista Sou BH
Na última noite de desfiles do Minas Trend, ocorrida ontem (8), os acordes da rabeca foram ouvidos densamente durante a apresentação da coleção de Lucas Magalhães. Antes das modelos entrarem na passarela já se sabia que o que viria era algo regional e bem brasileiro. Mas e aí? Qual a importância e força da música na apresentação de moda?
Para a cantora de samba carioca radicada em Minas Gerais, Aline Calixto, que estava na primeira fila, a música é fundamental nestes eventos. “Acho que música e moda andam juntas. Ela leva o universo e o conceito do desfile para as pessoas. A música ambienta o espectador do desfile que no primeiro acorde já sente o que vem por aí”, explica. Aline que ressaltou a trilha do desfile de Lucas Magalhães. “A música do desfile do Lucas é belíssima”.
Aline Calixto já cantou num desfile em 2013 para a coleção do estilista Victor Dzenk inspirada em Clara Nunes. O desfile aconteceu no Parque das Mangabeiras e apresentava uma moda praia cheia de saias de renda branca bem à moda da cantora mineira guerreira.
Segundo Paulinho DJ, de São Paulo, que estava fazendo o som dos desfiles do Minas Trend e trabalha há 21 anos com moda, a trilha sonora dos desfiles evoluiu. “Quanto mais variedade melhor. Fiz um desfile na última temporada que a trilha foi cantada pelo Filipe Catto (cantor e compositor gaúcho)”, explica.
A trilha de um desfile, de acordo com Paulinho, sempre tem a ver com a coleção. “Às vezes é a música que inspira o estilista a criar a coleção”, conta o DJ. “A música é imprescindível num desfile, pois ela dá o tom e o ritmo da apresentação das modelos e até dos looks”. Outra fator ressaltado por Paulinho é o tempo da música. “Acho que não pode passar de sete minutos porque senão fica boring. Este é o tempo ideal. Muitas vezes o estilista chega com uma música de dois minutos aí temos que aumentar”, conta. No caso da música do desfile do estilista Lucas Magalhães a música teve que ser cortada.
Há casos em que a trilha é composta especialmente para o desfile com base em um instrumento ou em um tema. Quando a música é executada ao vivo com o desfile, Paulinho diz que é um risco que o estilista corre. “Se a trilha executada com o desfile, com a presença de um cantor não condiz com os looks, a música pode chamar mais atenção que o desfile e quando isso acontece a crítica vem em cima”, afirma. Paulinho DJ afirma que tem que haver uma simbiose entre música e look. “Por exemplo, no desfile do Alexandre Herchcovitch agora, a música estava em consonância com os óculos dos modelos”, constata.
A moda tem a fama de usar a música eletrônica e Paulinho afirma que isso está mudando. “Principalmente em desfiles de moda praia, há a presença intensa da bossa nova e da música brasileira. Atualmente tem muito estilista usando a música nacional, a mpb, em seus desfiles”, conta.
O stylist Paulo Martinez diz que a música tem que mexer com o espectador. “Escolho as músicas dos desfiles que trabalho com o coração. Acredito que tem que emocionar, tem que passar uma mensagem naquela hora e marcar a pessoa que está assistindo”, explica. Ele diz que sempre procura trabalhar em conjunto. “Normalmente estudo as músicas dos desfiles com o DJ Zé Pedro, com quem trabalho há algum tempo”, diz.
Martinez foi o responsável pelo desfile da grife Mabel Magalhães no Minas Trend que se apresentou com música de Astor Piazzola chamada “Libertando”. Segundo o stylist essa música “remete a coisa do poder, do feminino, que foi o que a marca me apresentou”, conta.